21 de jan. de 2009

Uma quinta-feira chuvosa


Um conto que poderia ser realidade.
Era um dia chuvoso, e ela, uma jovem publicitária em crise existencial, caminhava sentindo a garoa fina acariciar seu rosto. O relógio da avenida marcava 09:15, 20º e enquanto apreciava a vista cinzenta ela pensava o quanto sua vida parecia com a cidade e se perguntava por que não era diferente.
O dia passou, demorado e lento, com a mesmice e o sentimento de poder fazer mais de sempre. O computador foi desligado, a bolsa colocada sobre o ombro e o mesmo até amanhã foi dado.
Ao entrar no vagão do metrô os mesmos questionamentos daquela manhã vieram fazer companhia e o que deveria ser uma noite com a mesmice de sempre mudou.
Pensou ela: "Esta uma noite agradavelmente fria, a garoa me fará companhia, porque não andar sozinha? E quem sabe parar para tomar um café e saborar aquele muffin de quase R$ 8,00?
Seus pensamentos foram interrompidos por uma voz rouca que dizia "Estação Ana Rosa, acesso a linha verde do metrô" (ou algo bem semelhante).
Ela desceu do trem e pegou um outro da linha verde. Chegando ao destino se dirigiu ao café e foi comer o seu merecido muffin.
Seu telefone tocou. Era uma amiga dizendo que estava em um charmoso bar da rua ao lado. Ela, mesmo sem muita vontade, foi ao encontro da amiga. E nesse momento, não sabia, mas sua vida começava a tomar um rumo diferente.
Ao parar no farol, olhou o prédio a sua frente e viu uma placa de vende-se. Analisou as janelas para ver se era um apartamento grande. Como aparentemente era do tamanho ideal, resolveu anotar o telefone da placa.
O farol abriu e ela foi para o bar. Ao entrar avistou a amiga em uma mesa com várias pessoas, algumas conhecidas, outras não. Respirou fundo e sorriu, mesmo pensando, eu deveria ter ido para casa.
Comprimentou todos que conhecia e foi apresentada aos que não conhecia. Sentou, pediu sua bebida e se inteirou na conversa mais próxima.
Ao seu lado esquerdo estava sua amiga, ao direito uma das meninas que ela acabara de conhecer e a sua frente um homem que ela também acabara de conhecer.
Em pouco tempo de conversa já não pensava que deveria estar em casa, achava a menina muito legal e o homem lindo. Todos na mesma exerciam a mesma profissão que ela, e após um breve tempo todos já tinham várias afinidades.
E nesse momento a conversa começou a ficar mais intima e os dois desconhecidos começaram a se tornar peças importantes na mudança de sua vida, sem que ela percebesse.
A menina comentou que na agência em que trabalhava estavam precisando de uma pessoa com o perfil dela e trocaram contatos para marcar uma entrevista. O moço lindo, aproveitou o momento e pediu também os contatos dela.
A noite acabou, ela voltou pra casa, dormiu o sono dos justos e acordou no dia seguinte com um sentimento de que o dia não seria a mesmice de sempre. E não foi.
Ao chegar no trabalho ligou na imobiliária. Uma boa notícia logo cedo. Ao que parecia o apartamento era o que ela procurava e com um preço ótimo. Mal podia esperar um dia passar para, no sábado de manhã ver o apartamento.
Um pouco mais tarde a amiga da amiga a chama no msn e pede que ela envie seu material. E ela assim o fez e pensou, "será que é isso mesmo?", só faltava agora o moço lindo a convidar para sair.
Ao voltar do almoço seu telefone tocou, mas não era o moço. Era um dirtor da agência da recente amiga perguntando se ela poderia ir aquele dia ainda conversar. Apesar de ser uma sexta-feira ela foi.
Gostou da agência e pela orimeira vez na vida, pelo menos na sua, já na entrevista confirmaram o dia de início. "Ótimo, tenho uma semana apenas e novo emprego, vida nova" ela pensou e lembrou do apartamento que visitaria no dia seguinte.
Chegou em casa, tomou um banho e pegou seu livro. Caiu no sono. Acordou no dia seguinte e foi ver o apartamento.
Tamanho perfeito, localização melhor ainda, bom estado. "Onde eu assino?", brincou com o corretor. Pegou a lista de documentos necessários para aprovação da compra e colocou na bolsa. Saiu feliz da vida e ligou para a sua amiga para agradecer tudo o que tinha acontecido. Combinaram de almoçar, em uma hora aproxidamente.
Ela entrou no metrô e seguiu a caminho do bairro japonês que ela tanto gosta. Andou pela feirinha e quando deu a hora encontrou sua amiga na estação. Foram para o restaurante e ela contava tudo e agradecia tudo enquanto esperavam sua comida.
Eis que a amiga diz: "Por isso que ninguém conseguia falar com você ontem, estava com o celular desligado por causa da entrevista". E ela afirmou e contou que só lembrou de ligá-lo hoje pela manhã e como tinha que sair nem viu quem havia ligado. E nessa hora soube que sua amiga havia encontrado o moço lindo na balada e que ela perguntara por ela. Pensou nessa hora "nem tudo poderia ser perfeito, mas já estou no lucro".
Seu pensamento foi interrompido com um convite de uma festa para aquela noite, onde, fez questão de deixar claro a amiga, o moço também estaria.
Foi pra casa, fez hora, chochilou, sonhou acordada. Se arrumou pensando nele, saiu de casa. Encontrou a amiga e foi para a festa.
Lá estava ele, lindo e com um sorriso maravilhoso ao vê-la.
Conversaram, riram, dançaram e se beijaram. Que noite.
Domingo acordaram na mesma cama, na cama dela. Tomaram banho, saíram para tomar café, fizeram hora na padaria legalzinha. Passaram pela casa dele pra que troucasse de roupa. Foram encontrar todo mundo num restaurante, passaram a tarde juntos e ele a deixou em casa de novo. Se beijaram e comentaram de se ver na semana.
Segunda de manhã, foi apara a agência, comunicou sua mudança e trabalhou. Passou na imobiliária para levar os documentos na hora do almoço. Voltou ao trabalho e começou organizar suas coisas.
Na quarta saiu com o moço, na quinta recebeu a aprovação da imobiliária. Na sexta fechou negócio, providenciou a mudança para o outro final de semana, saiu com os amigos e com o moço de novo.
Deixou para trás, salário ruim, ditadores, regras chatas, vida cinza e abraçou com força tudo que começara a receber naquela quinta-feira chuvosa...

* Qualquer semelhança com a realidade não é uma mera coincidência.
PS: Já que sonhar não paga imposto mesmo, vai que escrevendo alguma desses coisas se tornam realidade...


Nota Mental:
Atualmente minha imagem de ditador tem sido: Uma mulher baixa, cabelo de playmobil, queixo pontudo e que chora demais.
Dou um doce pra quem advinhar.

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